Após milênios de tradição filosófica, a estética continua provocando discussões calorosas nos círculos intelectuais, acadêmicos e filosóficos, não somente pelo valor subjetivo, que se manifesta nas situações da experiência do prazer de cada indivíduo, mas também na reflexão propriamente epistemológica sustentada no método investigativo filosófico. A beleza existe, ainda que atrelada aos sentidos, manifestando-se aos olhos, ouvidos e toque. Provoca uma ambivalência de emoções porquanto produz a sensação de descoberta de sentidos ocultos, perdidos outrora nos turbilhões que restaram da objetividade imposta pela civilização.
Certamente os poetas percorreram um extenso caminho no que concerne à comunicação da beleza espalhada pelo universo (aliás, os poetas anteciparam os psicanalistas no que se refere à compreensão do inconsciente), especialmente no tocante à beleza feminina, como muito bem demonstrou o poeta Vinícius de Moraes, no poema “Receita de Mulher”. Ademais, independente do caminho que escolhamos trilhar, um poeta certamente o trilhou primeiro. Por isso, não entendamos mal, mas beleza (como disse Vinícius de Moraes), de fato, é fundamental. Porque é devido à beleza que dirigimos o olhar à realidade, buscando uma experiência inefável de significação. A experiência do olhar é uma experiência própria da procura pela beleza, posto que a beleza faz ressurgir os significados esquecidos no almoxarifado das nossas memórias poéticas.
Embora o debate a respeito do belo atravesse os séculos, produzindo as mais variadas teorias, mostra-se irretorquível que o conceito de beleza reveste-se de uma perceptível subjetividade, estando, portanto, comprometido com a experiência de vida de cada sujeito. Se por um lado, o poeta fundamenta-se inegavelmente afirmando que “beleza é fundamental”, por outro, parece cair na armadilha sutil do senso comum ao afirmar, no referido poema, que “as muito feias que me perdoem”. Nesta perspectiva, torna-se imprescindível que questionemos o que é o belo e como a experiência estética se apresenta para cada indivíduo.
Realmente, beleza é fundamental. Não obstante o ser humano possa abdicar da beleza, mantendo-se vivo; todavia, não poderá desfrutar verdadeiramente da vida a menos que a beleza faça parte de tudo aquilo com que se relaciona. Daí, inspirados no gênio tomista, inferimos que a beleza está em tudo o que existe.
Malgrado não conheçamos a origem exata da beleza (natural) das coisas, sabemos que o contato com o que é belo produz prazer. Desde uma obra de arte, um crepúsculo, uma cachoeira, uma mulher… São realidades que produzem a sensação de prazer e elevação.
Podemos desconfiar, portanto, que a verdadeira beleza não está na forma, mas na essência do Ser de tudo aquilo que é, existe e vive. Não há beleza fora da existência.