Esta semana pretendo realizar uma pequena reflexão sobre a vida de Sócrates, considerado o pai da tradição filosófica ocidental, cujo pensamento divulgado pelo seu discípulo mais proeminente, Platão, nos diálogos, tornou-se basilar do pensamento humano. Pouco se sabe da vida desse filósofo excepcional (eu, particularmente, chego às vezes a duvidar de que ele tenha realmente existido) que viveu muitos séculos antes de Sigmund Freud, o pai da psicanálise.
Neste sentido, você deve estar se perguntando o que Sócrates tem com o método freudiano de tratamento das neuroses, uma vez que a psicanálise foi fundada muito tempo depois da morte de Sócrates. Pois bem, explico. Ou pelo menos, tento explicar. Todavia, antes de entrar na explicação propriamente dita, sinto-me na obrigação de esclarecer que ambos, tanto Sócrates como Freud, ainda na juventude, demonstraram vívido interesse pelas ciências, tornando-se este, apenas a título de curiosidade, um traço revelador da personalidade genial de ambos.
Sócrates não fundou escolas. Preferiu exercer a filosofia nas praças públicas, mercados e ruas, debatendo, contradizendo e provocando os concidadãos. Nas palavras de Ubaldo Nicola: era um “pregador laico”. Sócrates utilizava-se da “maiêutica”, método discursivo cujo objetivo era colocar o indivíduo na busca das verdades universais que são o caminho para a prática da virtude, isto é, o agir bem.
Poderíamos afirmar que a psicanálise, mesmo inconscientemente, tem se alimentado do pensamento socrático, na medida mesma em que defende a importância de saber que não se sabe, isto é, reconhecer os limites da própria ignorância. Nesta perspectiva, a psicanálise busca o não-sabido, aquilo que não cessa de não se inscrever, mas que se torna algo sempre além do nosso conhecimento. A psicanálise investiga um saber que o sujeito não sabe que possui, pois este saber encontra-se encoberto pelo inconsciente. Sendo um saber que não julgamos ter, não podemos ignorar os limites da nossa própria ignorância.
Desta forma, o psicanalista seria um socrático por excelência, pois, utilizando-se da maiêutica (método de investigação empregado por Sócrates), jamais fornece soluções, limitando-se a levantar, na melhor das hipóteses, perguntas como expediente para que o analisando descubra a verdade (mentirosa) da vida, que habita dentro de si mesmo.
Assim, caro leitor, espero ter conseguido explicar as razões que me levaram ao título acima. Sócrates tem muito mais a nos dizer do que podemos, fundamentados na nossa vã filosofia, imaginar. Mesmo após muitos séculos de sua morte, ele ainda nos interpela pelas praças públicas e nos questiona as razões da nossa existência. Duvida? Procure um psicanalista. “Conhece-te a ti mesmo”!