Freud definiu a neurose como o negativo da perversão.
Enquanto a neurose se caracteriza pelos conflitos psíquicos causadores de sofrimento, que são, portanto, reprimidos pelo aparelho psíquico para o inconsciente, na perversão trata-se de uma relação completamente diferente.
Na perversão não há repressão dos representantes psíquicos dos desejos, mas, ao contrário, esses são direcionados, ainda que de forma distorcida, à realização.
O perverso geralmente utiliza-se de objetos não convencionais e práticas sexuais socialmente consideradas tabu. Ou seja, enquanto o neurótico só consegue realizar seu desejo mediante a fantasia, o perverso coloca em prática o seu desejo sexual.
Desta forma, não é surpresa que a perversão tenha sido, no decurso do tempo, vista através das lentes moralizadoras da sociedade. Constituindo-se como inversão dos valores morais e sociais, a perversão, desde o século XIX, chama atenção da criminologia e da sexologia [sendo, muitas vezes, considerada como maneiras aberrantes de desejar].
E se no fundo os neuróticos invejam os perversos porque estes colocam em ato aquilo que na neurose é reprimido?
Não se trata aqui de romantizar a perversão [até porque muitas delas se apresentam com crueldade em relação ao outro], mas de compreender seus mecanismos de funcionamento, bem como suas origens.
O perverso tampona a falta mediante um objeto substitutivo, a saber, o objeto fetiche. Assim, o perverso nega a castração [incompletude de si mesmo] e a diferença dos sexos [nega a castração da mãe, recusando-se a saber da falta] através de um objeto que o faz sentir que faltoso é o outro, não ele. E assim, vai colocando em ato o seu desejo, colocando o outro no lugar de objeto [partenaire] de sua sexualidade.
Segundo Freud, a perversão está intimamente ligada ao desenvolvimento da sexualidade infantil. Na perversão, é como se o sujeito não fizesse a travessia do complexo de Édipo, ficando “preso” nas fases anteriores do desenvolvimento infantil, cuja sexualidade é “perversa-polimorfa”. Isso explicaria por que a sexualidade perversa se apresenta mediante a fixação em prazeres preliminares, isto é, nas pulsões parciais, não sendo levadas adiante quanto à finalização do ato sexual.
Por exemplo, um exibicionista goza tão-somente de exibir sua genitália para outra pessoa [geralmente mulher] e perceber o desconforto na expressão da pessoa que vê. Ele não busca um intercurso para além deste. Está fixado numa fase pré-edípica do desenvolvimento sexual.
Como uma criança, o perverso trata o outro como um objeto à sua disposição: a majestade, o perverso.
E nós, neuróticos, inconformados com a destreza dos perversos na realização sexual, nos referimos àqueles que gostam de sexo mais do que nós simplesmente de “pervertidos”.