No texto Reflexões para os tempos de guerra e morte, Freud expressa o seguinte:
“Acolhemos as ilusões porque nos poupam sentimentos desagradáveis, permitindo-nos em troca gozar de satisfações” (Freud, 1996, p. 290).
Assim, preferimos a ilusão de que estamos no controle, porque aquele que está no controle (da situação e da própria vida) é um sujeito que não falha, capaz de escolher e de vencer as adversidades extremas.
A abdicação da ilusão de controle – quando ocorre – não ocorre senão através do deslocamento dessa suposta capacidade de controle a alguém que aparentemente teria o mesmo zelo que o sujeito: quando descobre não ser completo – ainda na infância – o sujeito reivindica para o pai esse poder. Mas em seguida, descobre que o pai também não possui as qualificações necessárias para ter o controle e, com isso, transfere sua ilusão para Deus.
A frase “Deus está no controle de tudo” comporta bem esse raciocínio do indivíduo. E mais: demonstra que a renúncia à ilusão é apenas parcial, porque se Deus está no controle de tudo (e ele é meu amigo, pensa o sujeito), logo eu também estou no controle – ainda que indiretamente.
O neurótico, portanto, não abandona completamente a ilusão de estar no controle, mas, percebendo a dissonância entre a sua ilusão e a realidade, passa a repousar essa suposta capacidade sobre o Outro.
Já o perverso é uma outra história…
O sujeito que está sempre no controle [da própria vida e da situação] é o que podemos chamar de “imbrochável”.