Finalizei a leitura de Palmas para António – como o autismo do meu filho ampliou meu mundo. Desde já, acho interessante que Lana Bitu conte a história a partir de sua perspectiva de mãe e a partir de seus afetos, demonstrando que não é fácil para os pais se depararem com a notícia de que o filho está no espectro.
Geralmente os pais costumam produzir grandes expectativas sobre quem os filhos se tornarão num futuro não muito distante. Mas o autismo impõe diversas barreiras às crianças atípicas, levando os pais a terem de rever suas expectativas (na verdade, todos os pais estão revisando suas expectativas o tempo inteiro, mas os pais de crianças atípicas sofrem demais com essa revisão porque, muitas vezes, o filho não consegue coisas aparentemente simples como dizer “mamãe”).
Além disso, há o fator “olhar do outro”. Ou seja, as pessoas começam a perceber [e a julgar] a estranheza da criança: pula muito, roda, faz movimentos estereotipados com as mãos, tem seletividade alimentar, ecolalias, produz barulhos estranhos comparáveis a grunhidos de animais, demonstra pouco interesse na interação social, possui hipersensibilidade a barulhos [o que provoca crises; crises que são vistas pelos outros como birra], possui linguagem monótona ou total ausência de comunicação. Isso, como Lana relata, corta o coração dos pais. E corta, não somente porque os pais precisam revisar as suas expectativas, mas porque sentem medo de o filho não conseguir se virar sozinho algum dia.
Sentem-se aterrorizados com a possibilidade de a criança autista não conseguir ser feliz em decorrência das limitações impostas pelo transtorno. Frequentemente os pais acabam se dedicando mais a essas crianças, tentando protegê-las ao máximo desse mundo assustador para qualquer um, mas principalmente para pessoas que estão no espectro (basta ver a série “Atypical”, na Netflix, para perceber como a mãe se dedica integralmente ao filho com autismo).
Fui acometido pela seguinte reflexão:
Existem diversos métodos terapêuticos utilizados para ajudar pessoas com TEA a enfrentar as dificuldades da vida, como a autora relata (se são eficazes ou não, será outra discussão). Mas quantos desses métodos ajudam os pais de crianças atípicas a encarar essa realidade?
SUGESTÕES DE LEITURA Histórias de pessoas autistas: Palmas para António, de Lana Bitu. Uma Menina Estranha, de Temple Grandin. O Que Me Faz Pular, de Naoki Higashida. Sobre Autismo e Psicanálise: O Autista e a sua Voz, de Jean-Claude Maleval.